quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Meia-noite

«Os reis têm sangue azul
E os ricos são VIP's
E a Cinderela era loira
E perdeu um sapato de cristal para não perder os ratos
Que levaram o coche à meia noite
E os icebergues são maus 
Porque mataram o Titanic
E os mais velhos são mais sábios
E os pais tem sempre razão
Mas às vezes não.
E eu não entendo porque o sapato da Cinderela à meia noite não se transformou num chinelo velho
Se ela voltou a ter o vestido roto
E a fada dos dentes deixa uma moeda aos meninos que se portam bem
Mas os meus pais são pobres
Por isso
Deixou-me um caramelo de fruta
E o luar traz os fantasmas que fazem com que as crianças não gostem do escuro
E os adultos também
Mas sabem mentir
E o amor é cego e assexuado como os anjos
Por isso é que os anjos voam à noite
Para os homens não verem
E o choro é o banho da alma
E o riso um anti-rugas fácil
E quando pinto o rosto de branco
E os lábios vermelhos
E calço as luvas
E coloco o laço
Consigo estar calada
E perto do rio também
A ouvir
E por isso luto todos os dias por viver momentos sem mim
Para ao som dos outros saborear
O silêncio.
E há sorrisos que nos fazem acreditar
E olhares que nos prendem
E mantém no peito a possível existência dos anjos
E a Cinderela existe
Mas a fada dos dentes não
Nem a abóbora
Nem os ratos
Nem a meia noite
Nem o sapato de cristal
Mas o amor
Que é assexuado
Solitário
E incolor
Cabe no pé dela
E como não há príncipe
O Titanic morre todos os dias
E eu ás vezes também
Mas não discuto o Fado
Que me cantam ao ouvido
Todos os dias
Ao amanhecer
Porque
O sexo dos anjos
Não é discutível!»

(24-07-2012)